Entre o final de abril e a primeira semana de maio, o estado do Rio Grande do Sul foi severamente afetado por chuvas volumosas que resultaram em devastação em muitas de suas cidades. Além dos danos a residências e estabelecimentos comerciais, houve casos de pessoas e animais ilhados e em sério risco de serem arrastados pelas enchentes.
O que explica essa concentração de chuvas e o dano significativo causado? Mudanças climáticas desempenham um papel crucial em eventos climáticos extremos como esse, exacerbados pelo recente fenômeno El Niño, que aquece as águas do Pacífico e influencia o clima global.
Durante os dias críticos no Rio Grande do Sul, três fatores climáticos distintos interagiram. Primeiramente, uma massa de ar úmido vinda da Amazônia, transportando umidade através dos “rios voadores”, foi bloqueada pelo relevo elevado, desviando-se em direção ao centro-oeste, sudeste e sul do Brasil. Esse padrão meteorológico natural é fundamental para regular o clima, porém está sendo comprometido pelo avanço do desmatamento na Amazônia.
Simultaneamente, uma massa de ar quente e seco predominava sobre o sudeste brasileiro, criando um bloqueio atmosférico que impediu o deslocamento adequado das frentes frias. Enquanto isso, uma frente fria avançava sobre o sul do Brasil, exacerbando ainda mais a situação.
O desmatamento em larga escala agrava esses problemas. A remoção da cobertura florestal reduz a absorção de dióxido de carbono da atmosfera e compromete a capacidade do solo de absorver chuvas gradualmente, resultando em enchentes mais severas. Além disso, sem matas ciliares nas margens dos rios, esses cursos d’água se tornam mais suscetíveis à erosão e ao acúmulo de detritos, perdendo sua capacidade de regular e transportar água de forma eficiente.
Eventos como esses destacam como as mudanças climáticas, exacerbadas pela ação humana, colocam comunidades em risco e destacam a importância de políticas ambientais robustas e mitigação dos impactos ambientais.O Rio Grande do Sul está enfrentando uma situação climática complexa, conforme explicado pelo analista de clima e meio ambiente da CNN, Pedro Cortês. O estado está sendo impactado por frentes frias vindas do sul do continente, que encontram uma barreira significativa em uma zona de alta pressão localizada no centro do Brasil, atuando como uma verdadeira “muralha”.
Essa zona de alta pressão não apenas impede o avanço das frentes frias, mas também desvia a umidade do Oceano Atlântico em direção ao Rio Grande do Sul pelo leste e através da Amazônia pelo oeste. Como resultado, o estado está recebendo umidade de múltiplas direções, exacerbando os efeitos das chuvas intensas.
“Estamos testemunhando o que eu chamaria de tempestade perfeita, onde o Rio Grande do Sul está sendo afetado pelas frentes frias que chegam do sul do continente, mas essas frentes não conseguem avançar devido à presença dessa zona de alta pressão no centro do Brasil”, destacou Cortês.
Essa combinação de fatores meteorológicos cria um cenário desafiador para o estado, aumentando o risco de enchentes e outros eventos climáticos extremos. É um lembrete poderoso dos complexos padrões climáticos que podem impactar regiões específicas de maneira intensa e imprevisível.
Nas regiões mais elevadas da Serra, há possibilidade de precipitação invernal, segundo a Climatempo. A previsão indica que a ocorrência mais provável é de chuva congelada, embora exista uma pequena chance de nevar.
Chuva congelada ocorre “quando um floco de neve que sai da nuvem passa por uma camada de ar com temperatura positiva, mas depois congela novamente ao encontrar o ar gelado abaixo da base da nuvem”, explica Josélia Pegorim, da Climatempo. O fenômeno é diferente da neve, quando os flocos congelados não derretem até chegar ao solo